terça-feira, 15 de março de 2011

Ouvir os pequenos. Eis a questão!

Artes infantis

Como você costuma reagir às artes dos seus filhos? Você é daqueles que acredita que as crianças devam ser bem disciplinadas para se tornarem adultos responsáveis?



Você está certo. Contudo, o que deve se considerar é como a disciplina é imposta aos pequenos.

Esta é a história de um escritor brasileiro que narra sua experiência pessoal, acontecida lá pelos seus sete ou oito anos de idade. Hoje ele já conta mais de oitenta.

Ele morava, com os pais, a poucos metros de distância dos trilhos do trem. Era um garoto retraído e meio caladão. Mas, um belo dia resolveu testar a sua força e pontaria. Escolheu para alvo o trem que passava. Pegou uma pedra, mirou e atirou.



Acontece que era um trem de passageiros. A pedra quebrou uma vidraça. Felizmente não atingiu ninguém. Quando o trem chegou à estação seguinte, telefonaram para aquela onde vivia o garoto e, naturalmente, não foi difícil descobrir o autor do ato terrorista.



Os pais não eram dados a castigos corporais, mas o pai decretou um castigo terrível para o filho. Deveria ficar sentado à vista de todos, no alto de uma pilha de dormentes de madeira, à beira da linha do trem.



O menino se sentia humilhado. E o pior de tudo é que não estava entendendo a razão de todo aquele castigo. Afinal de contas, ele só jogara uma pedra no trem.

Lá pelas tantas, porém, se aproximou um empregado da estação ferroviária. Subiu os dormentes e se sentou ao lado dele. Não trouxe palavras de condenação ou de censura. Também não desautorizou a providência punitiva do pai. Mas explicou, de forma adulta, que o gesto impensado poderia ter ferido, talvez até matado alguém, no trem.



Que ele pensasse nas consequências. Alguém poderia ter ficado cego ou muito ferido com a sua arte. Ao concluir o seu depoimento, recordando desse momento infantil, o escritor confessa que nunca mais jogou pedras em ninguém, embora tenha levado algumas pedradas pela vida afora.



Mas o que ele recorda e com muita gratidão, apesar de tantos anos passados, é que aquele homem foi a primeira pessoa que, em vez de repreender, censurar ou criticar, lhe falou como um adulto. De homem para homem, sem ironias, ou agressividade.

Acima de tudo, explicou a ele a situação. Isso lhe permitiu entender o porquê da penalidade que estava sofrendo.

* * *

Antes de qualquer crítica apressada ou condenação, é indispensável ouvir os filhos. É importante que eles expliquem as suas razões, da mesma forma que os pais, na qualidade de educadores, devem explicar o erro que eles cometeram.

Muitas vezes, somente o fato dos filhos descobrirem que cometeram uma falta, já lhes constitui penalidade suficiente porque a consciência os acusa. O que equivale a dizer que, melhor do que qualquer castigo, sem diálogo, vale uma boa explicação acerca de consequências, perigos e responsabilidade.

Como dizem: É conversando que a gente se entende...

(Redação do Momento Espírita, com base no cap. 12 do livro Nossos filhos são Espíritos, de Hermínio Miranda, ed. Arte e cultura.)

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É... nem sempre é fácil, especialmente na hora da raiva, "naquela" hora em que a gente se depara com "o feito", "o acontecido", ou a malcriação. Mas é fato mesmo... é preciso ouvir os pequenos...
E complementando o texto anterior a poesia do Drummond, muitas vezes essas "artes" são mesmo forma de chamar a atenção para o nossa própria displicência ou impaciência há tempos, que passam desapercebidas por nós, mas não pelas crianças, curiosas, observadoras, atentas a tudo! 

Poesia em fim de tarde de chuva...



Enfeite-se com margaridas e
ternuras e
escove a alma com flores
com leves fricções
de esperança



De alma escovada e
coração acelerado
saia do quintal de si mesmo
e descubra o próprio jardim.

[Drummond]

Incentivo

Os Espíritos ensinam que a evolução humana se dá sob o influxo de um conjunto de Leis morais. Elas versam sobre os mais diversos setores e constituem um roteiro de felicidade.

O Espírito que logra segui-las evolui em linha reta para Deus. Já o que se permite violá-las e se torna um rebelde enfrenta incontáveis percalços em sua caminhada. Essas Leis contam com sofisticados processos para conduzir os seres humanos. Possuem atrativos, a fim de orientar por onde se deve seguir.

Por exemplo, a Lei de conservação, que envolve os cuidados que se deve ter com o próprio corpo. 


O gozo dos bens terrenos, como o comer e o beber, é propositadamente saboroso. Evidentemente, há o uso regular e o abuso. Deve-se buscar o equilíbrio, com o qual se assegura uma vida terrena longa e produtiva.


O mesmo ocorre com a Lei de reprodução. Por força dela, os Espíritos têm oportunidade de renascer em novos corpos na Terra. 


O magnetismo sexual e o prazer nele envolvido garantem que a procriação seja constante.

Do mesmo modo, ocorre com a Lei de sociedade. Os homens devem conviver, a fim de aprenderem uns com os outros e se auxiliarem mutuamente. 


Da convivência, gradualmente surgem importantes virtudes, como a tolerância e a fraternidade.

O homem é um ser social por natureza. Ou seja, ele sente necessidade de conviver. Precisa se sentir refletido no olhar alheio, deseja receber toques físicos e emocionais. Trata-se de uma poderosa necessidade humana, que não deve ser desconsiderada.



Um erro comum que os pais cometem é só prestar atenção quando os filhos causam ou enfrentam problemas. Como estes necessitam ser notados, podem, até de forma inconsciente, começar a se tornar complicados.



À míngua de toques positivos, ao procederem de modo estranho, asseguram ao menos os negativos. Ocorre que não apenas as crianças desejam ser notadas. Os adultos também precisam de cuidados.

É comum cuidar-se de quem vai mal, de quem tem graves problemas e sucumbe. Enquanto isso, quem, embora com dificuldades, persevera no bom caminho recebe reduzida atenção.



Raros se lembram de elogiar o homem de vida reta.

Quem trabalha, estuda e cuida dos seus deveres torna-se um anônimo inconsiderado. Entretanto, todos necessitam de uma palavra de incentivo, de um gesto de apreciação.



É válido e imprescindível cuidar de quem se equivoca, de quem cai perante os problemas do mundo. Mas não dá para esquecer de incentivar o esforço sincero da pessoa equilibrada. 



Os que vivem honestamente, os que não possuem vícios, os que são fiéis aos seus compromissos são o esteio da sociedade. Convém reparar neles e incentivá-los a que persistam.

Afinal, todos necessitam receber algum reconhecimento.

Pense nisso.

(Redação do Momento Espírita. Em 16.02.2011.)

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De fato, e, como nada é por acaso, passo exatamente sobre a problemática citada no texto! Às vezes somos realmente levados a perceber apenas aquilo que nos incomoda e esquecemos de enaltecer muitas virtudes, fazendo exatamente o inverso do que deveríamos: elogiamos menos, criticamos mais.
E isso não é um privilégio só de filhos, como é exemplificado no texto.
Fazemos isso com tanta gente, o tempo todo. Pior, muitas, muitas vezes com nós mesmo, na maioria dos casos. Deixamos nossos defeitos se sobressaírem...
Talvez porque, apesar da transformação latente em mundo de regeneração, estejamos ainda vivenciando um mundo de provas e expiações, onde a dor ainda sobrepõe o amor.
Mas de qualquer forma fica o alerta pra nós: é preciso mudar, reagir a esse conceito. Procurar ver mais beleza e felicidade nas coisas e pessoas, das pequenas às maiores!
Já dizia o mestre Ghandi "Nós devemos ser a mudança que queremos para o mundo."
E vamos tentando, de passinho em passinho, porque o caminho é longo, a estrada não é fácil e o tempo é breve!
Abraços a todos!